segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Gaia e Vila Nova


Após a reconquista e a pacificação dos territórios a sul do Douro, as terras férteis abandonadas são novamente ocupadas pelos colonos que em tempos se deslocaram para norte, em troca de melhores contratos feudais com os novos senhores das terras conquistadas.
É a partir daqui que surgem dois burgos distintos, os quais faziam parte da actual freguesia de Santa Marinha, sendo por isso ambos localizados na zona ribeirinha.
Um era Portucale Castrum Antiquum, cujos bispos queriam deter os direitos senhoriais do burgo, causando antagonismos entre os burgueses de Gaia e o poder senhorial dos bispos portucalenses.
Tendo em conta isto e o facto da família real conceder grandes benefícios e bens aos mosteiros locais, interveio D. Afonso III no reguengo de Gaia, ao outorgar a carta de foral em 1255, passando esse a denominar-se Vila de Gaia, aquando a atribuição do documento régio.
Deste modo, afronta os privilégios dos clérigos quando, com o desejo que aqui nascesse uma nova povoação, tão importante como o Porto, passa a cobrar impostos dos géneros e mercadorias vindas do Douro, ao estabelecer alfândegas reais que estavam vedadas ao poderio do Bispo do Porto.
Com isto, com uma base económica não só agrícola, mas principalmente piscatória, vinícola e comercial, pretendia incrementar a função de entreposto comercial pela sua localização, e por conseguinte favorecer o desenvolvimento económico liberto de pressões senhoriais.
Tudo isto com o objectivo de povoar esta região, oferecendo aos seus moradores, na maioria pescadores e mercadores, o invejável privilégio de não pagarem portagem em nenhuma parte do reino.
O outro era o Burgo Velho do Porto, que com a atribuição do foral de D. Dinis e D. Isabel, em 1288, se passou a chamar Vila Nova de Rei, restringindo-se rapidamente a Vila Nova, logo em 1291. Este facilmente se tornou num importante estaleiro e entreposto comercial, com uma feira medieval privilegiada em 1308.
Estas povoações encontravam-se separadas, geograficamente, pela Ribeira de Santo Antão, assim como pela administração, pois cada uma tinha os seus próprios eleitos para administrar os respectivos burgos.
No entanto, estas ligavam-se na defesa dos interesses comuns e de entreajuda no plano comercial, dado que, enquanto a Vila de Gaia estabelecia o comércio com o Alto Douro e pescava, a outra servia de estaleiro e entreposto para albergar o importado.Apesar da divisão administrativa, as duas populações da margem esquerda do rio, estabeleciam uma relação de interdependência, assente numa ajuda mútua.


Imagem retirada do livro "Gaia e Vila Nova na Idade Média"

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